Sabes aquela sensação de entrar num lugar e, sem saber bem porquê, sentir que podias ficar ali a tarde inteira? Para mim, isso acontece em livrarias. Mas não daquelas enormes, com filas e café aguado. Falo das pequenas, independentes, com livros escolhidos a dedo e uma atmosfera que mistura silêncio e descoberta.
Lisboa, felizmente, tem várias dessas. Lugares onde se vai por um livro e se sai com um caderno, uma conversa, um convite para um lançamento. Aqui está o meu roteiro pessoal com sete livrarias independentes que são muito mais do que espaços de venda: são pedaços de cidade com alma, onde a literatura se cruza com o quotidiano de forma inesperada.
📍 Calçada Marquês de Abrantes 96, Santos
A Salted Books é daquelas livrarias que parecem surgidas de um sonho. Propriedade da escritora inglesa Alex Holder, que trocou Londres por Lisboa e trouxe com ela as amigas criativas, cool e muito literárias, é um lugar onde os livros em inglês ganham um brilho especial. E não só: ali acontecem eventos, conversas, lançamentos e encontros espontâneos que podiam perfeitamente sair de um filme indie.
A seleção é moderna, diversificada, com muita literatura contemporânea, livros ilustrados e poesia que nunca vi noutro lado. Há uma mesa comunitária que convida a ler com vagar, bolos caseiros e chás. Pergunta à Alex (ou a quem estiver por lá) o que andam a ler — é difícil sair sem uma nova obsessão.
📍 Rua dos Prazeres 10A, São Bento
A Fable podia estar em Berlim ou Copenhaga, mas está no meio de um dos bairros lisboetas mais bonitos: São Bento. Fui pelos livros, fiquei pela focaccia. Aqui, literatura e gastronomia andam de mãos dadas com o design, as revistas independentes e os vinhos naturais.
A maior curiosidade? É o lugar onde organizo, uma vez por mês, o meu clube de leitura de criatividade. O jardim nas traseiras é um pequeno paraíso para leitores introspectivos. Escreve-me quando quiseres participar. Prometo que sais de lá com alguma ideia nova.
📍 Rua de São Bento 30, São Bento
Não sei bem se fui eu que encontrei esta livraria ou se foi ela que me encontrou. Dedicada à literatura de viagens, tem guias, diários, ensaios e mapas que nos puxam para longe. A cada visita, saio com um destino novo na cabeça (e várias ideias de livros).
Comprei lá um guia sobre caminhar na Islândia que nunca usei. Mas não importa: é daqueles lugares onde sonhar é permitido, mesmo que seja de mochila imaginária.
📍 LX Factory, Rua Rodrigues de Faria 103, Alcântara
Sim, é fotogénica. Sim, já apareceu em todas as listas. Mas a Ler Devagar continua a ser uma das minhas preferidas. Tem tudo: café, exposições, editoras pequenas, prémios Nobel e poesia escondida.
Gosto de ir sem pressa. Subir ao mezanino, sentar com um livro qualquer, espreitar as prateleiras de livros tênues. Já comprei de tudo: desde romances a ensaios que me fizeram mudar de opinião. Não é só uma livraria. É uma experiência.
📍 Rua de Arroios 25, Arroios
A Tigre de Papel não tenta agradar a todos — e ainda bem. Foca-se em pensamento crítico, literatura que provoca, livros que querem mudar algo em quem os lê. Entrei pela curiosidade, fiquei pelo desafio.
Há lançamentos, debates, discussões que são mais do que eventos: são exercícios de cidadania. Aqui descobri autoras feministas, tradutores que admiro, e livros que não estariam em mais lado nenhum. Um manifesto em forma de livraria.
📍 Rua de São Nicolau 35, Baixa
Não te deixes enganar pelo nome. A Snob é uma livraria independente cheia de afetos. Funciona também como editora, e tem uma seleção de livros que equilibra bem entre clássicos modernos e novidades inteligentes.
Tudo ali tem um toque pessoal. Pequenas notas manuscritas com sugestões, histórias partilhadas por quem lêu. E aquela sensação boa de estar a comprar um livro num lugar que realmente acredita nele.
Num mundo onde tudo se compra com dois cliques, estas livrarias lembram-nos que os livros não são produtos. São começos de conversa, chaves para mundos, pistas de quem somos. Cada uma destas sete tem um ponto de vista, uma curadoria, um modo de existir que resiste à pressa.
Quando penso na boa Lisboa, penso nestes lugares. E fico grata por viver numa cidade onde ainda se pode sair de casa sem saber o que se vai ler, e voltar com um livro, uma ideia, uma vontade nova.